Pesquisadores do Projeto Tatu-canastra que já realizam estudos no Pantanal e Cerrado, agora trabalham para proteger a espécie do risco iminente de extinção em Minas Gerais.
Considerado o gigante das Américas e ameaçado de extinção, o tatu-canastra é o maior e um dos mais raros entre os tatus e que no Brasil, pode ser encontrado nos biomas da Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, sendo o último a região mais crítica para a existência da espécie, que atualmente só tem registros na Reserva Biológica de Sooretama (RBS), Reserva Natural Vale (RNV), ambas localizadas no Espírito Santo (ES), e no Parque Estadual do Rio Doce (PERD), primeira Unidade de Conservação criada em Minas Gerais e que abrange os municípios de Dionísio, Marliéria e Timóteo.
“Estamos trabalhando há quase dois anos com monitoramento contínuo e visitas quinzenais para observação e instalação de armadilhas fotográficas que são acionadas através de sensores de movimento, com o objetivo de obter imagens e compreender mais sobre o comportamento e também avaliar a população a longo prazo e a viabilidade genética desse animal tão importante para o nosso ecossistema. Além disso, até o momento temos o registro de 50 diferentes espécies que interagem de forma direta e indireta com as tocas do tatu-canastra na região do PERD”, disse o pesquisador.
O biólogo também aponta para a possibilidade desta ser a última população da espécie viável de toda Mata Atlântica e, por isso, ressalta que a realização dessa pesquisa é fundamental para compreender as atuais e potenciais ameaças na região e consequentemente propor políticas públicas voltadas para a conservação deste animal que cava grandes tocas, — ou melhor, túneis, já que os buracos podem chegar de 60 centímetros à 6 metros de profundidade, dependendo da finalidade com que será utilizado, se é para descanso, alimentação ou até mesmo para passar alguns dias.
O fato é que esse mamífero com cerca de 1,5 metro de comprimento do focinho à cauda e que pode chegar a pesar 60 quilos, é um gigante solitário de hábitos noturnos que saí de sua toca por volta das 20h e retorna entre 1h e 4h. Além disso, estes animais são considerados “engenheiros do ecossistema” por conta de suas habilidosas e imensas tocas, locais que após a sua partida, se tornam um refúgio para outros animais, como o tamanduá-mirim, a cotia e pequenos roedores.
Proteger a maior espécie de tatu do mundo é defender a vida!
O fundador e presidente do ICAS, Arnaud Desbiez, que já pesquisa essa espécie no Pantanal há mais de 10 anos, explica que o projeto já registrou cerca de 70 espécies diferentes utilizando tocas abandonadas, principalmente em períodos em que há variações climáticas extremas, pois, o local mantém uma temperatura constante de aproximadamente 25°C e que a extinção do tatu-canastra pode resultar na simplificação ou diminuição dos habitats fossoriais, afetando negativamente espécies que dependem destes ambientes.
“São muitos anos de pesquisa científica e dedicação neste trabalho que está nos permitindo descobrir mais sobre essa espécie, que apesar do seu tamanho, é muito raro de ser avistado e do qual não se sabia praticamente nada e o que conhecíamos ainda era incerto, como, por exemplo, a biologia e reprodução desse animal, onde o macho atinge a maturidade sexual entre sete e nove anos e que a gestação de uma fêmea dura cinco meses, com o nascimento de apenas um filhote com um intervalo de três anos entre cada gestação, tornando a espécie mais vulnerável às ações antrópicas,” ressaltou Desbiez.
A iniciativa que já acontece dentro do parque, passará a realizar visitas nos fragmentos do entorno do PERD, com o objetivo de confirmar a presença ou ausência dessa espécie em outras áreas e com isso, gerar resultados que poderão ser transformados em ações mais efetivas para a conservação dessa espécie, classificada como vulnerável na lista vermelha internacional de fauna ameaçada da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), que além do Brasil, também pode ser encontrada na Colômbia, Venezuela, Guiana Francesa, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina.
HISTÓRICO DO PROJETO
O Projeto Tatu Canastra teve início em 2010 na região da Nhecolândia, no Pantanal, com o objetivo levantar mais informações a respeito dessa espécie, seu comportamento, história natural e consequentemente, propor medidas efetivas para a sua proteção e, em 2014, as pesquisas expandiram-se também para o Cerrado do Mato Grosso do Sul (MS) e desde 2019 vem sendo executado na região mineira da Mata Atlântica.
Realizado pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) e pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), com o apoio do Whitley fund for Nature, The Royal Zoological Society of Scotland e de outros financiadores, principalmente por zoológicos americanos e europeus, a realização deste programa em Minas Gerais, conta com o apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF) de Minas Gerais.
Confira o “Guia de informação sobre o tatu-canastra: conheça a espécie e um pouco mais sobre o Programa de Conservação do Tatu-canastra na Mata Atlântica” e saiba sobre o trabalho que tem sido desenvolvido pelo Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS) no Parque Estadual do Rio Doce (PERD).