Evento reuniu especialistas no Parque Estadual do Rio Doce (PERD) para discutir conservação de espécies da fauna que estão ameaçadas nesse importante bioma brasileiro.
Pesquisadores do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), juntamente com os representantes de outras instituições de pesquisas que atuam no Parque Estadual do Rio Doce (PERD), considerada a maior área contínua de Mata Atlântica preservada em Minas Gerais e que abrange os municípios de Timóteo, Marliéria e Dionísio, participaram do “I Seminário de Pesquisas Integradas do PERD”.
O evento que aconteceu no Centro de Treinamento do PERD entre os dias 15 a 17 de dezembro, teve como objetivo apresentar os protocolos científicos desenvolvidos por pesquisadores e promover a integração do conhecimento adquirido por cada projeto de conservação que é executado no bioma. Uma iniciativa que visa identificar lacunas e estabelecer um espaço permanente para o diálogo e a troca de experiências entre estes profissionais e o Instituto Estadual de Florestas (IEF), órgão gestor da Unidade de Conservação (UC).
Além de apresentar o trabalho e as pesquisas que vem sendo desenvolvidas nos últimos anos na Mata Atlântica, os participantes também divulgaram resultados obtidos até o momento e compartilharam as metas e os desafios de cada projeto, a fim de unir esforços em defesa da biodiversidade, do monitoramento e da compreensão dessas espécies raras e endêmicas, ou seja, que só ocorrem na região.
Vinicius de Assis Moreira, gerente do PERD, explica que essa união entre as instituições, órgãos públicos e sociedade civil irá fortalecer este que é considerado um dos últimos refúgios de Mata Atlântica para algumas espécies que estão ameaçadas de extinção no bioma, tais como, o tatu-canastra, harpia, muriqui, onça-pintada e o bicudo, com o intuito de criar mecanismos de proteção que viabilizem a proteção da biodiversidade na região.
“Estamos em um processo de sensibilização e confecção de um importante plano de manejo do parque, um documento que irá nos auxiliar a trabalhar formas de proteger e preservar toda essa riqueza que temos aqui no estado e que é desconhecida para muitas pessoas. Por isso, a ideia de reunir pesquisadores e especialistas para alinhar e integrar conhecimento e suas metodologias, foi a maneira mais eficiente que encontramos de proteger e obter resultados que proporcionem relevância e a conservação deste patrimônio natural da humanidade”, ressaltou o gestor.
A iniciativa de integração só alcançará seu objetivo com o apoio e a participação da comunidade
Durante o seminário também foi realizada uma dinâmica onde os integrantes de cada projeto se dividiram em grupos para discutir e propor ações que aproximem o trabalho científico realizado na área do PERD com a comunidade local, seja por meio da comunicação eficiente e objetiva ou através da realização de atividades específicas de educação ambiental.
Para a técnica do PERD e facilitadora do evento, Jailma Soares, conhecer os materiais que já foram produzidos pelas instituições e também discutir a possibilidade de utilizar o conhecimento dos pesquisadores para a criação conjunta de produtos específicos que envolvam a sociedade em ações voltadas para a conservação de animais tão raros e importantes para o bioma, é uma excelente maneira de levar o conhecimento para a comunidade e fazer com que as pessoas se apropriem desse conhecimento e se sintam parte dessa iniciativa de conservação.
“Nosso maior desafio é encontrar uma maneira eficiente de compartilhar esses estudos científicos com a nossa comunidade, um trabalho que já vem sendo realizado pelo PERD mas que a partir de agora, com o apoio e a participação dos pesquisadores, será ainda melhor e acredito que terá uma adesão significativa das pessoas e que deverão nos auxiliar na proteção da nossa Mata Atlântica,” enfatizou a técnica.
INTEGRAÇÃO PELA CONSERVAÇÃO
Como parte da proposta de integrar as iniciativas, no decorrer do seminário os pesquisadores também apresentaram as características e as diferentes maneiras de identificar as espécies que são trabalhadas por seus respectivos projetos, uma maneira para que todos possam ter informação e conhecimento e consequentemente, colaborar com as demais ações desenvolvidas no PERD.
De acordo com o presidente do ICAS, Arnaud Desbiez, os projetos enfrentam certa dificuldade em ampliar a área de estudo e explorar toda a extensão da unidade e é por isso que a cooperação e colaboração entre os pesquisadores será essencial não só para a conservação das espécies, mas também na proteção do parque, que possui uma extensão de aproximadamente 35 mil hectares.
“É importante que cada pesquisador que esteja realizando o trabalho de campo da sua pesquisa tenha conhecimento de outros projetos e esteja capacitado para colaborar na identificação de fatores que possam contribuir em outros estudos que já são realizados, como, por exemplo, registrar e compartilhar a localização onde foi encontrada a espécie, como efetuar um registro fotográfico eficiente, como identificar a vocalização, fezes, pegadas e outros vestígios característicos de cada animal. Com isso, podemos ter um estudo mais amplo e também aumentar não só a área de estudo, como também ampliar a fiscalização da reserva ecológica”, explicou Arnaud.
Essa iniciativa de conhecer e compreender cada projeto, também faz parte da criação de um núcleo de informações que será o centro difusor de ações a serem desenvolvidas no PERD, cujo o objetivo é promover a compreensão do meio ambiente natural, cultural e de suas inter-relações, adotando medidas sensibilização das populações humanas para que elas possam perceber a relevância e a importância de conservação não só do parque, mas de todas as áreas protegidas.
Para o biólogo e coordenador do projeto Tatu-canastra na Mata Atlântica, Lucas Mendes Barreto, a integração entre pesquisadores e a gestão do parque, só alcançará seu objetivo com o apoio e a participação da comunidade, pois, desde muito cedo, nossas crianças recebem uma forte influência de valorização de animais e plantas estrangeiras, principalmente da fauna Africana e, isso faz com que as riquezas locais passem despercebidas e ignoradas pela sociedade, que não faz ideia da grande ameaça que essas espécies estão enfrentando.
“É de suma importância que nos próximos eventos haja a participação de representantes da sociedade civil que vivem no entorno do parque, afinal, é fundamental que essas pessoas adquiram as informações corretas, seja por meio de livros didáticos, palestras, vídeos e apresentações. É preciso que todos os envolvidos sintam que fazem parte deste grupo e do trabalho que estamos desenvolvendo. É imprescindível que os moradores locais tenham presença e voz na conservação da biodiversidade e das riquezas que estão em seus quintais, reconhecendo e valorizando o ambiente da qual fazem parte”, explicou Lucas.
Além do Projeto Tatu-canastra, executado pelo ICAS desde 2020 na Mata Atlântica, participam do evento os pesquisadores do Projeto Carnívoros do PERD, da Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ); Projeto Harpia, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e Universidade Federal do Espirito Santo (UFES); Projeto Bicudos do Instituto de Pesquisa e Conservação Waita e do Projeto Primatas, realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Universidade Federal de Viçosa (UFV), que deverão se reunir no segundo semestre de 2022 para a realização da segunda edição do seminário.
ASSINATURA COM OSCIP POSSIBILITARÁ AMPLIAÇÃO DAS PESQUISAS
O Instituto Estadual de Florestas (IEF) deverá assinar ainda neste ano, um termo de parceria com a vencedora do edital da Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), quando serão investidos cerca de R$ 21 milhões nos próximos quatro anos, para investimento em infraestrutura, proteção, pesquisa e preservação dos recursos naturais e da biodiversidade do PERD.
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