Um filhote de tamanduá-bandeira albino foi encontrado em uma fazenda na região de Três Lagoas, no Mato Grosso do Sul (MS). O albinismo é uma desordem genética que limita a produção de melanina, gerando animais com pelagem de coloração clara ou aloirada. O filhote, batizado como Alvin, recebeu um colar de monitoramento via GPS colocado por pesquisadores do ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres, para a realização de um estudo inédito para compreender como será a adaptação deste animal, com características incomuns, em vida livre, mais especificamente no Cerrado.
De acordo com a médica veterinária, Débora Yogui, esse é o segundo indivíduo com albinismo localizado na mesma região. O primeiro indivíduo, um tamanduá-bandeira juvenil que foi registrado pela Polícia Militar Ambiental (PMA) em agosto de 2021, foi encontrado morto e com sinais de predação pelos pesquisadores do ICAS.
“Quando nós chegamos lá, ele já estava em óbito, mas conseguimos coletar amostras genéticas que foram enviadas para a análise em laboratório. E agora, um ano depois, apareceu uma fêmea com um filhote pequeno (Alvin) nas costas e que também apresentava características de albinismo e dessa vez, conseguimos chegar até o animal para colocar um colar de monitoramento e isso vai possibilitar a realização de um estudo inédito sobre essa característica rara nestes animais”, explicou Débora.
Os tamanduás-bandeira normalmente possuem uma pelagem marrom-acinzentada com uma grande faixa preta nas costas. Essa coloração é de extrema importância para a sua sobrevivência, pois ajudam na sua camuflagem contra possíveis predadores, e também ajudam a filtrar os raios solares, proporcionando um conforto térmico e protegendo estes animais do sol e calor típicos do Cerrado.
Nina Attias, bióloga e pesquisadora do ICAS, explica que além das características genéticas, o estudo irá avaliar como o fato de ser albino influencia o comportamento e a saúde do animal. Todos os tamanduás são naturalmente sensíveis a temperaturas extremas e precisam de áreas com vegetação mais densa para se abrigar de frio ou calor extremo. Isso pode ser um desafio ainda maior para um tamanduá albino vivendo no Cerrado – bioma que mais sofre com o desmatamento de suas áreas nativas, diminuindo drasticamente o habitat da fauna silvestre.
“Existe uma teoria ecológica que diz que os bichos albinos de vida livre tendem a ser menos adaptados à natureza, por isso, optamos por realizar um estudo de monitoramento que irá nos possibilitar compreender se de fato eles são mais suscetíveis ao sol, calor, frio e predadores e entender mais sobre o comportamento e as necessidades destes indivíduos raros. Mesmo sabendo que ele corre vários riscos, nós não podemos interferir na vida deste animal de forma direta, pois estaríamos influenciando nos processos ecológicos naturais e, como conservacionistas, sabemos que isso não é bom para as espécies ou para o ambiente”, disse a pesquisadora.
Além de monitorar o comportamento do Alvin quando sair das costas da mãe e de como será a sua adaptação neste ambiente, o estudo quer descobrir se o tamanduá-bandeira ou sua mãe podem ter alguma relação genética de parentesco com o juvenil encontrado em 2021 e tentar entender como um evento tão raro pode ter acontecido duas vezes no mesmo lugar em um período tão curto.
O ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres, realiza desde 2017, estudos de conservação e monitoramento de tamanduá-bandeira no Cerrado de Mato Grosso do Sul (MS) através do projeto Bandeira e Rodovias, elaborando medidas de mitigação com o objetivo de evitar colisões veiculares da fauna silvestre nas estradas do estado. Saiba mais em www.icasconservation.org.br ou envie um e-mail para contato@icasconservation.org.br para mais informações e/ou solicitar entrevistas ou mais conteúdo de imagem e/ou vídeo.
Para mais informações sobre esse estudo inédito, confira a matéria da BBC Brasil: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-64006619.