Antes, a espécie só havia sido registrada por meio de fotografias. O felino é ágil e tem hábitos peculiares, que dificultam os flagrantes, além de estar na lista de animais em extinção.
Desde 2010, quando iniciaram as pesquisas do Projeto Tatu-canastra na Nhecolândia, no Pantanal de Mato Grosso do Sul (MS), foram poucas as vezes em que o gato-mourisco, um felino ágil e de hábitos peculiares – que dificultam os flagrantes – e que, assim como o tatu-canastra, está na lista de animais em extinção, pôde ser observado pelas armadilhas fotográficas instaladas pela inciativa executada pelo ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres.
O biólogo e pesquisador do projeto, Gabriel Massocato, explica que o tatu-canastra é conhecido por usar grandes áreas de floresta, são mais de 2.500 hectares para cada indivíduo. E este registro é um indicador de que, ao preservar a espécie, também estamos atuando na proteção de outros animais que vivem na planície.
“Saber que há outras espécies tão importantes e raras habitando a mesma região que esse gigante da nossa biodiversidade, nos enche de entusiasmo e ressalta a importância ambiental da área e a necessidade da conservação do Pantanal”, comemora Gabriel.
O flagrante deste vídeo foi feito no fim do ano passado, quando o Pantanal começava a entrar no período de cheia. Entretanto, as imagens só puderam ser acessadas pelos nossos pesquisadores no início deste mês, quando as águas dos rios pantaneiros começaram baixar e o acesso às câmeras fotográficas voltou a ser acessível.
Apesar do vídeo ser curto, a imagem do bicho reflete a importância da preservação do ecossistema pantaneiro, pois através deste vídeo, os pesquisadores puderam observar que está é uma espécie que, assim como outras que também fazem parte da lista de animais ameaçados de extinção, também possui uma convivência harmônica com o tatu-canastra.
Gato-mourisco: um animal em extinção
O gato-mourisco, que também é conhecido como jaguarundi ou gato-preto, possui um porte menor do que as onças e quando adulto, o animal pode pesar até 9 quilos.
O felino é considerado raro e está no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Brasil e suas populações estão em declínio, muito por conta do desmatamento, queimadas, caça e atropelamentos. Um problema que assola muitas espécies de animais silvestres.
O trabalho com armadilhas fotográficas
Atualmente, o projeto tatu-canastra possui 20 armadilhas fotográficas que são ativadas remotamente por meio de um sensor de movimento ou sensor infravermelho, e que auxiliam na pesquisa sobre o comportamento dos animais silvestres da região do Pantanal.
As câmeras são camufladas e colocadas em alguns pontos estratégicos para entender melhor os hábitos dos tatus-canastras. Cada câmera tem 124 gigas de registros fotográficos e de vídeo e funcionam como os olhos dos pesquisadores, desempenhando uma função muito importante no monitoramento do comportamento e da vida social do animal.
Tatu-canastra: o engenheiro do ecossistema
Presente apenas na América do Sul, o tatu-canastra, o maior de todos os tatus, pode chegar a 1,5 metro de comprimento e pesar entre 28 e 60 quilos. Com um olfato apurado e de hábito noturno, sua atividade pode variar de acordo com a época do ano e acontece quase sempre entre 18h e 4h, este animal dorme aproximadamente 17 horas por dia e raramente é visto pela manhã.
Considerado um engenheiro do ecossistema, ele possui uma garra dianteira que pode chegar a 15 cm – a maior do reino animal – e que é utilizada para cavar buracos com cerca de 60 cm de profundidade para alimentação, buracos de descanso com aproximadamente 170 cm, que são utilizados por apenas uma noite, e tocas grandes e profundas de aproximadamente 4 m ou mais, com média de 1,5 metro de profundidade. Além disso, eles cavam novas tocas em média a cada 3 noites, e raramente as reutilizam, o que faz com que esses locais possam servir de abrigo para mais de 70 espécies de vertebrados, entre aves, répteis e mamíferos.