A iniciativa faz parte de uma série de treinamentos oferecidos desde a formação da brigada comunitária do Pantanal da Nhecolândia em 2021.
O ICAS – Instituto de Conservação de Animais Silvestres, IPÊ – Instituto de Pesquisas Ecológicas e a Fazenda Baía das Pedras, em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), realizaram a quarta edição do treinamento da brigada comunitária formada por uma coalizão de 22 propriedades rurais da Nhecolândia, no Pantanal de Mato Grosso do Sul (MS), que estão aptas a proteger 1.600 km² do Pantanal.
A iniciativa faz parte de uma série de treinamentos oferecidos desde a formação da brigada comunitária em 2021. Além dos equipamentos necessários, os brigadistas novos e veteranos recebem capacitações anuais, visando assegurar uma resposta rápida e eficaz em caso de incêndios na região.
Gabriel Massocato, coordenador do Projeto Tatu-canastra no Pantanal, explicou que a grande preocupação deste ano se deve à ausência de enchentes na planície e ao baixo volume de chuva na região de planalto do bioma, fatores que podem causar um grande incêndio na vegetação nativa.
“É de conhecimento de muitos que o fogo faz parte da cultura do Pantanal, mas novamente o bioma enfrenta o risco de incêndios devastadores devido às condições climáticas adversas e à seca prolongada. Coincidência ou não, a sub-região pantaneira da Nhecolândia não foi afetada por grandes incêndios desde a criação das brigadas comunitárias e das ações de prevenção e capacitação realizadas anualmente”, disse Gabriel.
A antecipação do treinamento, normalmente realizada no final de julho, foi uma medida preventiva devido à estiagem alarmante, que poderia resultar em incêndios mais precoces. Por isso, era importante garantir que os brigadistas e as fazendas estivessem preparados antes do início da temporada de incêndios.
“Sabíamos que haveria uma menor participação de fazendas neste ano devido à data do treinamento coincidir com as atividades de manejo do gado nas propriedades, o que impediu a adesão de mais participantes. Mas todas já receberam o treinamento em edições anteriores e estão devidamente preparadas em uma situação emergencial”, destacou Gabriel.
Durante dois dias de capacitação e formação teórica e prática, o evento contou com a participação de oito fazendas: Fazenda Santa Maria, Três Corações, Campo Eunice, Baia das Pedras, Mutum, Corixão, Santa Cruz e Livramento.
Arnaud Desbiez, presidente do ICAS, ressalta que, até o momento, não foram detectados focos de calor na região, mas que a capacitação contínua e a integração de novas fazendas e tecnologias são cruciais para manter o Pantanal protegido.
“A coalizão de propriedades rurais está cada vez mais fortalecida, e a expectativa é de que o número de fazendas envolvidas aumente nos próximos anos, consolidando uma rede de proteção eficaz e colaborativa”, disse o pesquisador.
No total, 28 pessoas foram capacitadas não só em combate a incêndios florestais, mas também receberam uma palestra sobre Plantas Alimentícias do Pantanal, ministrada por profissionais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), uma parceria entre o ICAS e o Projeto Sabores do Cerrado & Pantanal. Esta atividade adicional destacou a importância de conhecimentos culturais e científicos sobre a flora local, promovendo uma maior conexão dos participantes com a biodiversidade do Pantanal.
Acompanhe o trabalho das brigadas comunitárias no Pantanal de MS, uma união de esforços que visa preservar uma das maiores riquezas naturais do Brasil, garantindo um futuro sustentável para a região e sua biodiversidade.
HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DA INICIATIVA
A criação das brigadas comunitárias começou em 2021, após os devastadores incêndios de 2020 que destruíram uma extensão quase cinco vezes maior do que a média de área queimada nas últimas duas décadas. O incêndio daquele ano atingiu 43% de áreas que não queimavam há mais de 20 anos, representando uma grave ameaça à vida na maior planície alagável do planeta.
Liderados pela Fazenda Baía das Pedras, em 2020, os pesquisadores Arnaud Desbiez, fundador do ICAS e do Projeto Tatu-Canastra, e Patrícia Medici, pesquisadora do IPÊ e coordenadora da Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira, realizaram uma grande ação para a captação de recursos financeiros e mobilização para a criação das brigadas.
Segundo a pesquisadora Patrícia Medici, o objetivo da ação foi o de prevenir novos desastres que possam vir a ameaçar a fauna, a flora e a cultura pantaneira. “Naquele momento, a criação de brigadas despontou como a estratégia mais efetiva para viabilizar aos pantaneiros a possibilidade de responder prontamente a focos de incêndio no Pantanal do Mato Grosso do Sul”, destacou Patrícia.
EQUIPAMENTOS E TREINAMENTOS
A iniciativa já distribuiu centenas de equipamentos essenciais para o combate seguro ao fogo, incluindo um caminhão-pipa, motobombas, queimadores para realização de contrafogo, sopradores portáteis, motosserras, roçadeiras, foices, enxadas e outros Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) essenciais para resguardar o bem-estar dos brigadistas.
Os treinamentos, realizados anualmente desde a criação da coalizão de propriedades rurais que compõem a brigada, têm sido fundamentais para formar novos brigadistas, reciclar o conhecimento daqueles que já participaram de edições anteriores e garantir a manutenção adequada dos equipamentos doados. Esses treinamentos visam assegurar uma resposta rápida e eficaz em caso de incêndios na região.