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Adriano Adames

O que o maior tatu do mundo tem a ver com o mercado nacional e internacional de mel? E qual a relação de uma caverna na Serra da Bodoquena com a apicultura? Isso tudo tem a ver com a história de Adriano Adames de Souza, um produtor de mel com mais de trinta anos de experiência com abelhas, que hoje é referência nacional na produção de mel e se tornou um dos principais parceiros do projeto Canastras & Colmeias. 

Adriano nasceu em Jardim, em Mato Grosso do Sul, e iniciou sua carreira com o turismo da região da Serra da Bodoquena, onde foi guia e mergulhador de cavernas. Na época, trabalhava no Buraco das Abelhas: uma gruta natural que, durante a seca, era visitada pelos insetos, que precisam beber muita água para produzir mel, fenômeno que batizou a gruta. Os turistas perguntavam das abelhas e também do mel. Desse interesse, foi surgindo a determinação de trabalhar com apicultura.

Adriano foi estudando, se profissionalizou, e hoje é referência em produtividade por colmeia e também referência em sustentabilidade e preservação: vestiu a camisa do Canastras e Colmeias e é o parceiro mais antigo do ICAS nessa empreitada. 

Foi um longo caminho: Adriano conta que, uma vez, visitou uma fazenda onde haviam capturado e matado um tatu-canastra, em retaliação pelas colmeias perdidas: uma caixa de abelha pode custar mais de duzentos reais, e o tatu as quebra para comer as larvas, dando um enorme prejuízo para o produtor. É um embate pela sobrevivência no qual ambos podem sair prejudicados: o tatu, que quebra as colmeias não por maldade, mas por ser um animal de grande porte – o canastra é o maior tatu do mundo, e em alguns lugares pode pesar mais de 50kg – que se alimenta quase exclusivamente de insetos, esse gigante anda vários quilômetros por noite em busca de alimento, e nessas andanças pode “tropeçar” num apiário, sem saber que os apicultores dependem da renda das colmeias. Adriano, porém, com suas raízes no turismo e na preservação da natureza, se sentiu desgostoso com a morte do bicho: “desde que comecei a trabalhar com apicultura, nem cobra eu mato”, afirma. Mais tarde, quando teve seus próprios prejuízos com o tatu, numa região de cerrado onde colocou suas colmeias, conta que um fazendeiro local até perguntou por que é que ele não matava o bicho, mas Adriano estava determinado a encontrar uma alternativa para co-existir com o tatu-canastra. 

O tatu canastra derruba as colmeias, e para evitá-lo Adriano cercou o apiário com tela, mas o tatu aprendeu: cavou a terra e passou por baixo. Adriano então foi mais radical: construiu uma mureta para cercar a produção tanto por cima quanto por baixo da terra, e depois disso o tatu não passou mais. Esses esforços, porém, não são baratos e demandam esforço logístico. Muitos produtores precisam mudar suas colmeias de lugar com frequência, enquanto outros não têm os recursos para cercar os apiários dessa forma, e precisam inovar em métodos de mitigação.

É por isso que Adriano, parceiro do Canastras & Colmeias há mais de cinco anos, trabalha para que a convivência entre os produtores de mel e o tatu canastra seja, além de possível, benéfica para todo mundo: através de seus entrepostos de mel, Adriano ajuda os pequenos produtores a alcançar um mercado mais amplo, e o selo de sustentabilidade do Canastras & Colmeias ajuda Adriano e seus parceiros a alcançar mercados especializados: “hoje em dia tem gente disposta a pagar pela conservação”, Adriano afirma. 

O apicultor também é o responsável pelo Projeto Rainhas, que produz rainhas selecionadas geneticamente e faz doações de abelhas-rainha para produtores de pequeno porte. A ideia, conta Adriano, é repor as colmeias perdidas: com uma rainha, um apicultor pode dividir uma colmeia e criar duas, mitigando assim possíveis perdas para o tatu. O mais novo objetivo é expandir o projeto Rainhas para o Pará, onde o tatu é maior: enquanto em Mato Grosso do Sul os cavaletes que elevam as colmeias além do alcance do animal têm uma média de um metro e trinta de altura, lá eles precisam ter mais de um metro e meio. 

“A coisa não é do jeito que a gente quer, ela é do jeito que tem que ser”, diz, se referindo à longa caminhada de produzir mel sustentável, certificado e – talvez num futuro próximo – capaz de alcançar os mercados internacionais. Mas “qualquer caminhada começa pelo primeiro passo, por mais longa que seja, começa pelo primeiro passo”, afirma. Hoje, graças ao seu profissionalismo e dedicação, Adriano é referência não só em Mato Grosso do Sul, com seu mel “Serra da Bodoquena”, mas também no Brasil inteiro: viaja pelo país, participando de congressos e palestras onde produtores compartilham conhecimento técnico e prático. 

“Antes, me pagavam para dar palestra. Hoje estou dando de graça pra falar do tatu-canastra”, conta. E assim, com muita perseverança e profissionalismo, Adriano vai crescendo e se transformando num exemplo de negócios e sustentabilidade no mundo do mel. 

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