Projeto realizado desde 2017 criou um protocolo de manejo para a criação e adaptação para reintrodução de tamanduás-bandeira na natureza
O objetivo da iniciativa é cuidar de filhotes cujas mães, na maioria das vezes, são vítimas de colisões veiculares em estradas e rodovias mineiras, oferecendo cuidados que vão desde o aleitamento, desmame, adaptação, até seu retorno à natureza. Um trabalho feito por uma equipe multidisciplinar que desenvolveu um protocolo especial para promover a saúde e o bem-estar destes animais.
Juliana Magnino, médica veterinária e analista ambiental do Instituto Estadual de Florestas (IEF), explica que além de aprimorar os conhecimentos sobre a espécie em cativeiro, com o intuito de contribuir com o manejo, destinação e conservação do tamanduá-bandeira no Brasil, este trabalho atua no desenvolvimento de cada animal especificamente, pois, mesmo após a soltura, eles continuam sendo monitorados por meio de colares com rastreadores de GPS e armadilhas fotográficas que são ativadas através de sensores de movimento, equipamentos fundamentais na execução desse trabalho de soltura.
“Estes filhotes são recebidos primeiramente pelos Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS) de Minas Gerais, que acolhe e também oferece os primeiros cuidados para estes animais, ou seja, todos eles passam por uma avaliação clínica e são criados até atingirem a idade e o peso ideal para serem encaminhados para um dos cinco recintos de reabilitação construídos especialmente para eles nas áreas de soltura dos parceiros do projeto, que são propriedades rurais particulares, que possuem uma vegetação nativa e que são escolhidos por uma equipe técnica, que estuda os recursos de cada ambiente”, disse a veterinária.
Esta iniciativa atingiu um novo objetivo que alia a conservação da fauna silvestre com a educação ambiental ao mobilizar e despertar o interesse de proprietários rurais, para a criação de Unidades de Conservação e corredores ecológicos na áreas em que o projeto é realizado, como, por exemplo, a criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), Retiro Águas Vivas, que está localizada na zona de amortecimento do Parque Estadual do Pau Furado, nos municípios de Uberlândia e Araguari, que começou como área de reabilitação para tamanduás-bandeira e hoje possui uma grande relevância ambiental na região.
De acordo com o biólogo, pesquisador do ICAS e presidente da Nobilis Fauna, Victor Castro, o período de adequação geralmente é realizado no mesmo local onde o animal deverá ser solto e é por isso, que estes locais precisam ser bem avaliados e considerados aptos para a realização deste trabalho. Além disso, o projeto trabalha com uma soltura branda, ou seja, mesmo após a soltar estes animais na natureza, os comedouros externos ao recinto, continuam sendo abastecidos para dar suporte na alimentação e colaborando com a adaptação destes animais na natureza.
“Além de deixar as portas do recinto de reabilitação abertas para que os tamanduás possam entrar e sair quando quiserem, durante este período de adaptação, nós também instalamos coletes rastreadores nos animais, com o objetivo de monitorá-los durante o período de aproximadamente um ano. Desta forma, a equipe pode acompanhar o seu desenvolvimento, avaliar a sua sobrevivência, compreender como é feita a adaptação de cada animal na vida livre e saber onde eles estabeleceram seus territórios”, afirmou Victor.
Em 5 anos essa iniciativa já recebeu 10 órfãos de tamanduás-bandeira
As ações deste projeto fazem parte do Plano de Ação Nacional para a Conservação do Tamanduá-bandeira no Brasil (Portaria IBAMA/ICMBio nº 355 de 2019), que abrange e estabelece estratégias prioritárias de conservação da espécie, considerando a viabilidade genética e sanitária destas populações.
CADA TAMANDUÁ, UMA HISTÓRIA.
Em pouco mais de 5 anos, o projeto soltou e fez o monitoramento de 6 tamanduás-bandeira, sendo que cada animal foi essencial para o aprendizado sobre os desafios da criação e manejo e a compreensão de quais eram os desafios ambientais que precisavam ser trabalhados para a conservação da espécie. Infelizmente, nem todas as histórias tiveram um final feliz, mas cada uma delas teve a sua devida importância e contribuiu de forma significativa no desenvolvimento das ações que são realizadas hoje.
Atualmente o TamanduASAS possui 4 tamanduás em recintos de reabilitação, onde todos estão com os coletes transmissores e em breve passarão pelo processo de soltura na natureza. Sendo assim, iniciaremos uma série de postagens para que você conheça um pouco sobre cada filhote que passou pelo projeto e o que nós aprendemos com eles, pois, acreditamos que assim como nossa equipe, você também irá se encantar e se emocionar com essas histórias. Começa aqui o storytelling dos órfãos de tamanduá-bandeira.
O TamanduASAS é um projeto pioneiro na criação, reabilitação e soltura monitorada de órfãos de tamanduá-bandeira, realizado em Minas Gerais (MG) desde 2017, pelo do Instituto Estadual de Florestas (IEF), em parceria com o Ministério Público (MPMG) e cooperação técnica da Nobilis Fauna (ACT N°0600000006/21) e do Instituto de Conservação de Animais Silvestres – ICAS (ACT N°06000001717/18).