Recentemente, alguns canais de notícia relacionaram a doença causada pelo fungo Paracoccidioides como sendo a “doença do tatu”. O fungo causador da doença pode serencontrado no solo e, quando aspirado por pessoas ou animais, pode causar uma infecção chamada de Pracoccidioidomicose (PMC) – uma micose progressiva de pele, mucosas, linfonodos e órgãos internos. –
O médico veterinário e pesquisador Danilo Kluyber, do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), faz parte de um estudo que vem sendo realizado, desde 2011, sobre a saúde dos tatus no Pantanal e no Cerrado do Mato Grosso do Sul. O estudo faz parte de uma parceria com especialistas em Paracoccidioides, da equipe do Prof. Eduardo Bagagli e Profa. Sandra Bosco, do Departamento de Ciências Químicas e Biológicas e Instituto de Biociências, da UNESP de Botucatu.
Os pesquisadores confirmaram a presença deste fungo em tatus de diferentes regiões do Cerrado do MS, indicando que o fungo estaria presente também no solo destes locais. Entretanto, Danilo explica: “Sabemos que a transmissão não ocorre de animais para pessoas ou entre pessoas, mas apenas do contato direto com o fungo, ou seja, os tatus – animais que vivem em tocas e estão em contato direto com o solo e com a matéria orgânica – possuem mais chances de se contaminarem, porém, eles não necessariamente apresentam sintomas ou ficam doentes”, disse o pesquisador.
Assim, tratar a doença desse fungo como a “doença do tatu” é equivocado. Primeiramente porque impede as pessoas de compreenderem sobre o real problema e de como evitá-lo no futuro. Além disso, pode resultar em ataques contra diversas espécies de tatus, principalmente as mais ameaçadas, como o tatu-canastra (Priodontes maximus) e o tatu-bola da Caatinga (Tolypeutes tricinctus).
O médico veterinário explica que a doença acomete comumente trabalhadores rurais, pois são pessoas que estão em contato frequente com o solo e que podem aspirar a poeira e consequentemente os esporos do fungo. Além disso, acomete pessoas envolvidas com a atividade de caça, quando essas manipulam animais que abrigam partículas de solo contaminadas pelo fungo. Danilo explica que a doença pode causar feridas na pele, tosse, febre e/ou falta de ar.
“Assim como ocorreu com o surto de febre amarela e agora a nova varíola, onde os primatas-não humanos (macacos), foram cruelmente atacados devido à desinformação, não podemos permitir que isso ocorra com os tatus. É preciso informar corretamente sobre a problemática e a forma de contaminação desta doença. Os animais silvestres são importantes aliados no combate à doença, já que se constituem como indicadores da saúde dos ecossistemas.
Esse monitoramento nos indica a chegada de novos patógenos ou até mesmo de surtos de doenças, possibilitando ações de prevenção de possíveis epidemias que acometem os seres humanos”, ressalta Danilo.